terça-feira, agosto 30, 2005

Sempre com o Brasil na alma!

Uma das perguntas que eu mais escuto desde que me mudei pra cá é – “How do you like living here?” ou seja, “você gosta de morar aqui?”. A minha resposta é sempre a mesma “Gosto, mas (sim, existe um mas) não é a minha terra!” E os americanos olham pra mim com aquele olhar de quem sabe mais ou menos o que eu estou dizendo, mas não entendem porque eu estou dizendo.

Para um povo super patriota como este, que torcem o nariz para tudo o vem de fora, deve ser difícil de entender que exista um estrangeiro morando aqui que não ame morar aqui, como eu. Eles olham pra mim esperando aquela resposta “Eu amo morar aqui! Eu estou vivendo o meu sonho americano”, ou outras lendas do tipo. Especialmente quando falo que sou do Brasil, um país que aqui é visto como um país de terceiro mundo, pobre, violento, de muitos problemas.

A impressão que me passam, e isso é uma opinião muito particular minha, é que para o americano, o imigrante que mora aqui deveria se sentir um privilegiado. Mesmo quando este americano é aquele que não quer nenhum de nós aqui, ele quer que você dê no pé do país dele mas que você chore porque não “merecer” o privilégio de morar aqui.
Aí quando eu digo que aqui não é nunca como a minha terra, eles não entendem. Eu gosto da segurança, eu gosto de certas comodidades, eu gosto do sistema que funciona. Mas ainda sim, nao é o meu Brasil!

As pessoas me perguntam porque nunca tirei a minha cidadania americana. Porque não quero! É por isso! Não quero ser americana. Em 10 anos aqui nunca usei as cores branco, azul e vermelho nos 4 de Julhos, como eu vejo tantos outros fazendo. Não porque não achei apropriado, ou coisa assim. Mas porque nunca senti vontade de vestí-las. Pra mim vestir as cores da bandeira é uma demonstração muito forte de patriotismo, amor à terra, sentimento de posse, aquilo que é seu. E pra mim, estes sentimentos estão ligados ao verde e amarelo. Simples assim.
Em 10 anos aqui, nunca perdi o meu sotaque nordestino. Eu abro a boca, e me entrego para os conterrâneos. Eles olham pra mim, e acham graça que eu fale oxente, visse, mainha, como se nunca tivesse saído de lá.

Eu não gosto de Football, ou baseball, ou o hockey.. eu gosto de futebol do jeitinho que é jogado no Brasil. Faz tempo que não saio pra dançar aqui. Tem o lance das dificuldades de encontrar uma babysitter para o meu filho, claro. Mas a tempo perdi a vontade, pois eu gosto mesmo é de me acabar no forró! Ou aquele pagode local, com direito a caldinho de feijão.
E isso, meus caros amigos, não existe aqui, e se existesse, o marido dança igual à um cabo de vassoura. Aí não dar, né? Quando eu morava no Recife, tinha as pernas durinhas de dançar forro!

Quando me perguntam se gostaria de voltar, a minha resposta é “Voltaria hoje mesmo se pudesse”. Por que nunca voltei? Primeiramente porque o meu marido não se adaptaria. Porque ele não está preparado, e porque como eé muito difícil deixar a terra da gente, assim como eu deixei a minha, para ele qualquer desculpa dessas vale! E segundo, pesa bastante as questões da segurança, a situação do jeito que está por lá.

Eu sou infeliz aqui? De modo algum! Eu sou feliz com a minha família (meu marido e meu filho). Sempre tivemos que batalhar muito e ralar muito por tudo aquilo que temos, que adquirimos ao longo dos anos, então eu tenho muito orgulho disso, pois tudo que temos é fruto de muito trabalho, exclusivamente nosso. Somos sozinhos, pertencentes uns aos outros dentro da nossa pequena família. Eu gosto do conforto da minha casa, do meu cantinho, das minhas coisas, dos nossos dias como uma familia. Aprecio cada minutinho de tudo que fazemos juntos. Dou graças a Deus pelas conquistas! Também já me acostumei como muitas coisas por aqui, do jeitinho que elas são. Só que como nada nesse mundo é perfeito, então eu tenho tudo isso mas numa terra distante, que nao é a minha! É por aí!
**
As coisas que mais sinto saudades do Brasil (tirando o óbvio que é a família e os amigos):
-Tapioca, feitinha na hora, quentinha, com o queijo escorrendo nos cantinhos, da Sé de Olinda.
-Água de côco bem geladinha lá no calçadão de Boa Viagem
-Carnaval de Olinda, subindo e descendo as ladeiras o dia todo, naquele solzão de fazer 4 marcas de tops diferentes nas costas da gente.
-Rir de bolar no chão (literalmente) com os meus primos Marquinhos e Raquel Cecília
-Dançar forro arrastado até o pé fazer bolha
-Jogar conversa fora até 4 horas da tarde, num dia de Sábado, lá na frente do Acaiaca de Boa Viagem.
- Caldo de cana, moído na hora.
- Paozinho francês quentinho, no café da manhã, com requeijão, ou queijo de qualho.
- Jambo daqueles vermelhões, goiaba tirada no pé, umbú lá da fazenda, pitomba, manga rosa..
- São João de Caruaru
-Feirinha Hippie de Boa Viagem
-A varanda “portátil” da casa de Madrinha (os da família sabem o que eu tô falando, hehe!)
-As reuniões dominicais da casa de Madrinha (que já não está mais entre nós)
-Falar visse, oxente, mainha, vixe-maria, sem ninguem rir da minha cara, ou achar o meu sotaque engraçado.
-Bolo caramelado feito por mainha
-Bolo de noiva feito por mainha
-Brigadeiro, quindim, uvinha surpresa, bem-casado presentes em todas as festas.
- Feijoada de Tilde (os da família sabem qual é)
- Bolo de fubá de Romana (os da família, pois é, sabem como é)
-As rodinhas de violão da família, com o meu pai tocando um repertório que sempre inclue “O bêbado e o Equilibrista”, entre outros..

É por isso que eu sou brasileira até o último fiozinho do meu cabelo!

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